Wednesday, October 30, 2013

Joseph Blatter, Cristiano Ronaldo e a noção do ridículo

Como comentar uma insignificância sem alimentá-la ou sem ser patético? Talvez a melhor forma seja não alongar-se demasiado.

A nova polêmica na terrinha dos brandos costumes envolve Joseph Blatter, o presidente da FIFA, alguém que já demonstrou por várias vezes ser execrável e repugnante. O que esperar de um sujeito que preside uma das maiores organizações mafiosas do mundo? 

Mas ninguém se importa com isso. Os portuguesinhos não estão minimamente revoltados com o que a FIFA e o seu produto - o futebol - representam na sociedade atual. Eles adoram pão-e-circo e não importa nem um pouco toda a corrupção existente no seio da entidade referida. Aliás, eles não estão muito preocupados com nenhum tipo de corrupção nem com as manobras políticas que lhes fodem a vida. Basta observar a forma passiva, conformista e derrotista com que encaram a crise que seu país atravessa. Enquanto noutros países há fogo nas ruas, em Portugal as pessoas resumem-se a lamentar ou, no máximo, a engrossar protestos esporádicos bem domados que não passam de desfiles carnavalescos inconsequentes.

Mas tudo muda quando alguém toca em seus símbolos nacionais. Foi assim com o caso Maitê Proença e com o Acordo Ortográfico. É assim agora com uma brincadeira que Joseph Blatter fez com Cristiano Ronaldo. É normal que um país profundamente doente, sem grandes perspectivas, culturalmente miserável e intelectualmente falido deifique um jogador de futebol. Não é só em Portugal, evidentemente. Mas por aqui a mistura entre o eterno complexo de inferioridade com o orgulho labrego acaba por amplificar essas coisas. Todos estão super revoltados com Joseph Blatter. Pedem que se demita, insultam-no de todas as formas e contrapõem suas (inofensivas) brincadeiras exaltando os feitos do jogador. Não basta que Cristiano Ronaldo tenha problemas sérios com seu ego, é preciso que hordas de idiotas imaturos o alimentem.

O mundo seria muito melhor se as pessoas se indignassem, assim tão facilmente, com coisas sérias que realmente importam.

O que aconteceu foi simples: Joseph Blatter fez uma brincadeira. A comunicação social portuguesa viu nela a oportunidade de criar mais um caso mediático e fazer barulho, Cristiano Ronaldo choramingou, os portuguesinhos engoliram, como sempre engolem, e pronto. Suas emoções são sempre facilmente manipuladas e instrumentalizadas pelo quarto poder.

Cristiano Ronaldo, que sequer vive em Portugal, é um coitadinho. Uma vítima injustiçada por quem devemos unir esforços. A FIFA e a UEFA estão sempre perseguindo os portugueses. Sabe-se lá por que motivo e nem é preciso que se saiba, desde que essa teoria da conspiração continue alimentando o complexo de inferioridade.

E noção do ridículo, é para quando?